segunda-feira, 9 de maio de 2016

Olavo Bilac. Delírio



Nua, mas para o amor não cabe pejo
Na minha a sua boca eu comprimia
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
- Mais a baixo, meu bem, quero teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda em grito:
- Mais abaixo, meu bem! - Num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
- Mais abaixo, meu bem - Disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci...





segunda-feira, 14 de março de 2011

A bunda, que engraçada!



A bunda, que engraçada

A bunda, que engraçada
Está sempre sorrindo, nunca é trágica.
Não lhe importa o que vai
Pela frente do corpo. A bunda basta-se.
Existe algo mais? Talvez os seios.
Ora - murmura a bunda - esses garotos
Ainda lhes falta muito que estudar.
A bunda são duas luas gêmeas
Em rotundo meneio. Anda por si
Na cadência mimosa, no milagre
De ser duas em uma, plenamente.
A bunda de diverte
Por conta própria. E ama.
Na cama agita-se. Montanhas
avolumam-se, descem. Ondas batendo
numa praia infinita.
Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz
Na carícia de ser e balançar.
Esferas harmoniosas sobre o caos.
A bunda é a bunda,
redunda.

Drummond

O que se passa na cama ...


O que se passa na cama


(O que se passa na cama
é segredo de quem ama.)

É segredo de quem ama
não conhecer pela rama
gozo que seja profundo,
elaborado na terra
e tão fora deste mundo
que o corpo, encontrado o corpo
e por ele navegando,
atinge a paz de outro horto,
noutro mundo: paz de morto,
nirvana, sono do pênis
Ai, cama, canção de cuna,
dorme, menina, nanana
dorme a onça suçuarana,
dorme a cândida vagina,
dorme a última sirena
ou a penúltima... O pênis
dorme, puma, americana
fera exausta. Dorme, fulva
grinalda de tua vulva.
E silenciem os que amam,
entre lençol e cortina
ainda úmidos de sêmen,
estes segredos de cama.


Drummond

Sugar e ser sugado pelo amor!


Sugar e ser sugado pelo amor

Sugar e ser sugado pelo amor
no mesmo instante boca milvalente
o corpo dois em um gozo pleno
que não pertence a mim nem te pertence
um gozo de fusão difusa transfusão
o lamber o chupar o ser chupado
no mesmo espasmo
é tudo boca boca boca boca
sessenta e nove vezes boquilíngua.

Ainda Drummond

Você meu mundo meu relógio de não marcar horas


Você meu mundo meu relógio de não marcar horas


Você meu mundo, meu relógio de não marcar horas; de esquecê-las. 

Você meu andar, meu ar, meu comer, meu descomer. 
Minha paz de espadas acesas. 
Meu sono festival, meu acordar entre girândolas. 
Meu banho quente, morno, frio, quente, pelando. 
Minha pele total. 
Minhas unhas afiadas, aceradas, acidulas. 
Meu sabor de veneno. 
Minhas cartas marcadas, que se desmarcam e voam. 
Meu suplício. 
Minha mansa onça pintada pulando. 
Minha saliva, minha língua passeadeira, possessiva meu esfregar de barriga em barriga.
Meu perder-me entre pelos, algas, águas ardências. 
Meu pênis submerso. 
Túnel, cova, cova, cova, cada vez mais funda, estreita mais mais.
Meu gemidos, gritos, uivos, guais, guinchos, miados, ofegos, ah oh ai ui nhem ahah, minha evaporação, meu suicídio gozoso glorioso.

Carlos Drummond de Andrade

Mulheres Gulosas! Carlos Drummond


As mulheres gulosas


As mulheres gulosas
que chupam picolé
- diz um sábio que sabe -
são mulheres carentes
e o chupam lentamente
qual se vara chupassem,
e ao chupá-lo já sabem
que presto se desfaz
na falácia do gozo
o picolé fuginte
como se esfaz na mente
o imaginário pênis.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011


... Se não é como amar uma mulher só linda. 
E dai? Uma mulher tem que ter, qualquer coisa além da beleza.
Qualquer coisa de triste
Qualquer coisa que chore; 
Qualquer coisa que sinta saudades, um molejo de amor machucado.
"Uma beleza que vem da tristeza de se saber mulher" Feita apenas para amar; Para sofrer pelo seu amor e pra ser só perdão. Vinicius de Morais - Samba da benção